Por: Fernando Calmon
Segurança no trânsito pode ser abordada por vários aspectos e pelo menos três estão na ordem do dia. O mais estranho é essa espécie de rebelião na Câmara dos Deputados que, de repente, resolveu trazer para discussões em regime de urgência um projeto que dispensa as autoescolas de instalação obrigatória de simuladores de direção. A iniciativa assemelha-se à mobilização, 15 anos atrás, que extinguiu a exigência de kit de primeiros socorros em todos os veículos. De fato, era uma proposta mal elaborada e, pior, mal executada pela má qualidade do kit.
Não parece ser o caso dos simuladores, quando se sabe do baixo nível de eficiência dos agora chamados pomposamente de centros de formação de condutores (CFC). Trata-se de um equipamento útil cujo maior “pecado” é aumentar em até 20% o custo para o candidato a motorista, como se isso fosse algum impeditivo frente ao preço de qualquer veículo. A ideia foi do Contran que, inclusive, mostrou pesquisa nos EUA em que o uso do simulador pode reduzir em 50% os acidentes nos dois primeiros anos após a habilitação do motorista.
Esta celeuma já levou ao adiamento por seis meses da obrigatoriedade, pois só há, por enquanto, quatro fornecedores para milhares de CFCs. Bom lembrar que muitos países permitem que o candidato a motorista, a partir de 16 anos, dirija acompanhado por um maior de 25 anos já habilitado. Dessa forma, quando o jovem atingir os 18 anos terá se sujeitado a muitas situações reais de trânsito e o aprendizado será melhor, mesmo com a obrigação de frequentar depois a autoescola oficial. Como isso (ainda) não é possível no Brasil, o simulador ajuda no processo de tornar o trânsito mais seguro.
Outro programa útil que, afinal, começa a sair da longa preparação é o Siniav, Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos. Pela primeira vez se tornará possível conhecer e controlar a verdadeira frota brasileira, pois carros novos e usados terão etiquetas eletrônicas em curto prazo. A iniciativa vai bem além de apenas facilitar os que pagam impostos em dia. Há várias aplicações em mobilidade urbana, gestão do trânsito, integração de planejamento e informações entre os três níveis de governo, controle de veículos clonados e roubados, além de possível utilização em pedágios, estacionamentos públicos e garagens particulares.
E, finalmente, parece que dessa vez se aprovará uma lei nacional (sem risco de vetos do Executivo) de regulamentação severa dos desmanches – ou mesmo depósitos sem controle – de veículos sinistrados ou aposentados por “invalidez total”. É fundamental para diminuir roubos de veículos. Também ponto de partida para as essenciais ações de reciclagem – embrião de qualquer programa de renovação de frota – e o aproveitamento racional de peças usadas.
O que preocupa é certa condescendência do projeto em nível federal. Em São Paulo, vigora desde o mês passado lei estadual mais rigorosa e restritiva quanto a desvios e punições. Em vez de se aproveitar os esforços de quem já se aprofundou (inclusive por ter a maior frota veicular do País), trata-se de se flexibilizar as interpretações quanto a componentes ligados à segurança que não podem ser reciclados ou revendidos.
RODA VIVA
RENAULT atiça seus planos para o Brasil. Além da picape leve derivada do Duster, já confirmada, empresa admite que entrará na faixa dos subcompactos mais baratos. Projeto nasceu em parceria com a indiana Bajaj, mas a versão brasileira será de nível superior. Essa faixa, hoje, representa 8% do mercado e em quatro anos poderá significar 16%.
NÃO será apenas a diretoria da Toyota que sairá de São Paulo, em breve, de volta à sede histórica, em São Bernardo do Campo (SP). Há planos de produzir nas instalações do município vizinho o híbrido Prius. O governo deve conceder isenções para sua importação, mas induzirá a montagem do carro no Brasil em baixa escala.
VENDAS mundiais de 83,5 milhões de veículos leves e pesados bateram novo recorde no ano passado. Aumento de 5% abala essa história de ruas saturadas como desculpa pelos males do trânsito mal administrado. Ranking dos dez maiores mercados é o mesmo de 2012: China, EUA, Japão, Brasil, Alemanha, Índia, Rússia, Reino Unido, França e Canadá.
NESTA terça-feira os dois Suzuki Jimny da fábrica, que iniciaram a maratona de 100.000 quilômetros em 100 dias, atingiram 17.775 quilômetros rodados em 13 dias. Poucos incidentes, além de pedras nos para-brisas. Há 50 anos, um Gordini da fábrica completou 51.233 km em 21 dias, rodando sem parar (exceto para revisões) no autódromo de Interlagos.
GOVERNO chinês pretende liberar fábricas estrangeiras para atuar livremente no país. Hoje estão obrigadas a ter um sócio chinês com 50% de participação de capital. Decisão deve levar ao desaparecimento da maioria das marcas 100% chinesas. Sobreviveriam apenas as mais fortes, que teriam de aumentar qualidade, investir em marketing e redes de concessionárias.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon