Por: Fernando Calmon
Etanol vendido em São Paulo a mais de R$ 2,20 o litro atingiu um valor inédito desde a estreia do primeiro automóvel flexível em combustível em 2003. Chama a atenção por ocorrer na capital do Estado maior produtor de combustível vegetal. Em todos os outros Estados brasileiros, inclusive os que tradicionalmente apresentam vantagens, entre eles Mato Grosso, Paraná, Goiás e Tocantins, ficou mais barato abastecer com gasolina do que etanol pelo critério de custo/km.
Na média, o preço do etanol deve se situar abaixo de 70% da gasolina para o automóvel alcançar custo de rodagem menor. Basta multiplicar por sete o valor da gasolina e dividir por 10. Um disco batizado de FlexCalc®, que empresas distribuíram como brinde, facilita as contas, mas a escala máxima colocava o etanol a R$ 2,10. De qualquer forma, como a gasolina quase não varia de preço, etanol acima de R$ 1,70 já significa custo/km desfavorável.
Mantém-se, no entanto, o benefício ambiental porque um motor flex usando etanol emite cerca de 80% menos CO2, no ciclo fechado de produção (do poço à roda). CO2 não é tóxico, mas um dos gases de efeito estufa, segundo 174 países signatários do Protocolo de Kyoto, de 1997.
Combustível vegetal, a exemplo do etanol, está sujeito a variações de preços entre safra e entressafra. Quando cai abaixo de R$ 1,00 todos correm para abastecer, inclusive em carros só a gasolina, que não deveriam. Crescimento súbito – ou inesperado – na venda de veículos em 2009 e 2010 desequilibrou oferta e demanda, enquanto a resposta agrícola é necessariamente demorada.
Fala-se que o etanol encareceu demais devido à cana direcionada à produção de açúcar subir de 39% para 45% do total, a fim de aproveitar preços melhores no exterior. Na realidade, nada ia segurar o preço na bomba abaixo de R$1,70/litro porque as vendas de carros dispararam, enquanto investimentos e decisões de plantio sofreram um tranco com a crise financeira iniciada em 2008.
Perto de 90% das unidades comercializadas, hoje, possuem motores flexíveis, cujo nome já diz tudo: abastecer segundo a conveniência de preço ou autonomia, opção técnica indiscutível e vitoriosa. Os compradores exigem. Houve, porém, muitos motoristas desatentos. Se, em novembro do ano passado, tivessem substituído temporariamente o etanol, se evitaria atingir os píncaros e até se refletir sobre a gasolina. Afinal, 18% do preço desta na bomba é formado pelo etanol.
Eliminar oscilações severas passa por soluções de mercado, as únicas viáveis. Shell e BP, além da própria Petrobras, estão despejando bilhões de reais na produção de etanol nos próximos anos. A estabilização de preços, sem depender tanto de safras agrícolas, passa pela transformação do etanol em matéria-prima (commodity) com cotação em bolsas de mercadorias. Há anos se ensaia essa solução, envolvendo o maior produtor mundial, os EUA.
Uma vez acertada, poderia se obter equilíbrio nos preços. Plantações situadas nos hemisférios Norte e Sul do planeta são espelhadas: safra de um coincide com entressafra do outro. Assim de acordo, Brasil e EUA poderiam exportar ou importar etanol, mantendo sempre preços competitivos ao consumidor e sem prejuízos para os produtores.
RODA VIVA
PRODUÇÃO e venda de veículos no primeiro trimestre de 2011, frente a 2010, atingiram novos recordes. Pelo comparativo da média de dias úteis, que elimina a sazonalidade, números de crescimento são menos exuberantes: 3,5% e 1,5%, respectivamente. Anfavea mantém projeção para o ano: 5% acima do resultado de vendas de 2010, alinhado ao crescimento do PIB do País.
RESTRIÇÕES: crescentes quanto a volume e custo do crédito certamente se refletirão no ímpeto dos consumidores. Para um mercado que subiu surpreendentes 12%, em 2010, uma acomodação para 5% é razoável. Estoques totais de 31 dias se mantiveram em fevereiro e março. Indicam que ofertas e promoções continuarão na ordem do dia para atrair compradores.
INTERESSANTE: o fenômeno envolvendo marcas premium no Brasil. BMW 320i preserva referências ímpares de prazer ao dirigir, robustez e sensação de qualidade, apesar da simplicidade de equipamentos no interior e o motor de apenas 150 cv com câmbio automático. Mas há compradores atraídos pelos R$ 113.530,00. Ao contrário do que se esperaria em outros tempos.
EXPEDIÇÃO: de Los Angeles (EUA) a Ushuaia (Argentina) com a Palio Weekend elétrica partiu no último dia 9. Paulo Rollo, piloto e chefe do projeto, pretende rodar a 80 km/h. Para garantir autonomia de 100 km, entre cada recarga de oito horas, seguirá no “vácuo” do motor home de apoio que diminuirá a resistência aerodinâmica. Tempo previsto: quatro meses.
CORREÇÃO: sinalização de frenagem de emergência por meio do pisca alerta, da linha Gol, Voyage, Saveiro e Fox 2012, já nas concessionárias, é item opcional. De série, apenas no CrossFox. Apesar de solicitado, a Volkswagen não informou o preço do opcional até o fechamento da coluna.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon