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13/11/2025
Motoristas de apps querem autonomia
O trabalho dos motoristas de apps (aplicativo) no Brasil vive um ponto de inflexão, em meio a debates regulatórios no Congresso e a um julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que pode estabelecer um marco para todo o setor.
Uma pesquisa do Datafolha encomendada pela Uber revela que a maioria dos condutores prioriza autonomia e flexibilidade, enquanto espera do governo apoio principalmente na aquisição e manutenção de veículos e não vínculo formal de trabalho.
Motoristas de apps querem autonomia: 54% não trocariam flexibilidade
O levantamento ouviu 1.800 motoristas em todas as regiões do país e mostra que seis em cada dez rejeitam o emprego formal pelo regime da CLT, enquanto 25% apoiariam o modelo.
Mesmo o regime intermitente, criado na Reforma Trabalhista de 2017, é visto como inadequado por 66% dos entrevistados.
Além disso, 54% afirmam que não trocariam o trabalho por aplicativos por um emprego formal com o mesmo rendimento líquido, reforçando a importância do controle sobre a própria jornada e da possibilidade de atuar em múltiplas plataformas.
Qual o perfil dos motoristas de apps?
O perfil dos motoristas ajuda a explicar o cenário: 90% são chefes de família, 74% atuam em mais de um app e 72% pretendem continuar no modelo. Embora 60% trabalhem até 20 horas semanais nos aplicativos, 58% têm outra fonte de renda, o que indica que o trabalho por app funciona, para muitos, como um pilar de flexibilidade financeira. Entre as principais motivações estão o aumento do custo de vida (87%), flexibilidade e autonomia (84%) e necessidade de complementar renda (79%).
Quando questionados sobre o papel do governo, 52% defendem incentivos para compra e manutenção de veículos, 17% priorizam proteção previdenciária e 7% valorizam capacitação. Apenas 1% acredita que tarifas mínimas ou aumento direto de remuneração deveriam ser prioridade, e 21% preferem que o governo não interfira na relação com as plataformas.
Os desafios cotidianos também são expressivos: 49% apontam manutenção do veículo como principal preocupação, seguida por segurança (37%), risco de perda de renda por acidentes (36%) e impossibilidade de trabalhar por doença (31%). Em termos previdenciários, embora 60% tenham algum tipo de cobertura, fatores como custo, burocracia e falta de aderência do sistema ao modelo de trabalho deixam parte significativa da categoria descoberta.
A incerteza regulatória pesa: 56% dos motoristas afirmam sentir insegurança quanto ao futuro da atividade. Metade diz que abandonaria o trabalho por aplicativos caso o STF determine vínculo empregatício obrigatório.
“A flexibilidade, embora atraente, muitas vezes vem acompanhada da ausência de benefícios formais, estabilidade e proteção previdenciária. Por isso, a expansão das plataformas digitais precisa ser acompanhada de políticas públicas equilibradas, que preservem a autonomia sem deixar o trabalhador vulnerável”, afirma Luiz Gustavo Neves, CEO e co-fundador do GigU.
Os dados mostram que o setor opera em uma zona delicada, em que autonomia e proteção social precisam andar juntas. O caminho regulatório que o Brasil escolher afetará diretamente o desenho do trabalho por aplicativos, a sustentabilidade das plataformas e o futuro econômico de milhões de trabalhadores que fazem desse modelo um instrumento de renda e autonomia.
A pesquisa foi realizada por questionário de autopreenchimento por e-mail, com margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%.
