Psicóloga alerta
Psicóloga alerta: precisamos desacelerar não só no trânsito. Em um país onde 30% dos trabalhadores sofrem com a síndrome de burnout, segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), a necessidade de reduzir a velocidade da vida cotidiana nunca foi tão evidente.
O Brasil ocupa a preocupante segunda posição mundial em casos diagnosticados desta condição, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como doença ocupacional desde 2022.
“Vivemos em uma sociedade que glorifica o excesso de trabalho e a multitarefa constante, ignorando os sinais de alerta que nosso corpo e mente nos enviam”, alerta Giovanna Varoni, psicóloga especialista em Trânsito e diretora de Marketing da Associação de Clínicas de Trânsito de Minas Gerais (Actrans-MG) .
Não por acaso, a campanha do Maio Amarelo deste ano trouxe como tema “Desacelere. Seu bem maior é a vida”, uma mensagem que transcende o trânsito e se aplica perfeitamente ao ritmo frenético que adotamos em nossa rotina diária.
“A analogia entre nossa vida cotidiana e o trânsito é bastante pertinente. Ambos exigem atenção, equilíbrio e, principalmente, a capacidade de saber quando desacelerar”, explica Varoni.
“Assim como um carro que nunca passa por manutenção, nosso organismo começa a apresentar falhas quando não respeitamos seus limites.”
Uma vida em ritmo acelerado constante cobra seu preço de formas variadas e, muitas vezes, silenciosas até que o problema se torne grave.
Os impactos na saúde física incluem tensão muscular crônica, problemas digestivos, alterações hormonais – especialmente nos níveis de cortisol e adrenalina -, enfraquecimento do sistema cardiovascular e mudanças no apetite e metabolismo.
Na esfera mental, os danos são igualmente preocupantes: dificuldade para “desligar” a mente mesmo em momentos de descanso, irritabilidade constante, sensação de vazio, perda da capacidade de sentir prazer, pensamentos acelerados e impulsividade.
A correria do dia a dia se reflete diretamente em nosso comportamento no trânsito, criando um ciclo perigoso. Motoristas apressados tendem a ultrapassar perigosamente e desrespeitar limites de velocidade.
A mente sobrecarregada divide a atenção entre várias preocupações, reduzindo a percepção do ambiente e aumentando consideravelmente os riscos de acidente.
“A impaciência se traduz em intolerância com o ritmo dos outros, gerando conflitos e situações de risco”, observa Varoni. Além disso, os reflexos ficam diminuídos e o tempo de reação comprometido.
A combinação de ter pressa, estresse e desatenção aumenta significativamente as chances de colisões, tornando o trânsito um espelho das consequências de nossa incapacidade de desacelerar.
Adotar um ritmo mais leve de vida é beneficial significativo, segundo a psicóloga. “O corpo precisa de períodos de descanso para reparar células e tecidos. As pausas permitem processar informações, organizar pensamentos e encontrar soluções criativas”, conta.
Desacelerar também proporciona tempo para refletir sobre o que realmente importa e realinhar prioridades. “Há uma melhora na qualidade das atividades: fazer menos, porém com mais presença e qualidade. Isso sem contar na redução significativa de problemas de saúde relacionados ao estresse”, pontua.
Para quem tem dificuldade em reduzir o ritmo, a especialista oferece algumas recomendações práticas. A primeira delas é aprender a dizer “não” quando necessário e estabelecer limites.
Estabelecer rituais de desconexão das redes sociais; priorizar o sono; praticar a respiração consciente e o mindfulness e cultivar hobbies são outras dicas da psicóloga.
“Assim como no trânsito, na vida também precisamos respeitar os limites, as sinalizações do nosso corpo e mente, e entender que chegar bem é mais importante que chegar rápido”, conclui Varoni.