Interlagos foi novamente implacável com quem não tem garrafa vazia pra vender. A última corrida da temporada separou os homens dos meninos, os talentos dos mais lentos, os gênios dos seres normais, os que levam a sério dos que fazem trambiques.
A corrida foi um retrato fiel do que o campeonato desse ano mostrou, com suas alternâncias em relação ao tempo, seus vários lideres, as possibilidades infinitas de quem ganha e que perde, e com o título mudando de mãos a cada volta desse GP que entra pra história como um dos mais imprevisíveis de todos os tempos. As lições a serem tiradas para cada momento vivido na pista devem ser encaradas como uma resposta do senhor destino aos mais afoitos e os falastrões de plantão.
Mais uma vez pudemos acompanhar o maior talento atual das pistas construir uma conquista pelo seu braço e sua arte na capacidade monstruosa de pilotar um carro de Fórmula 1. Sebastian Vettel não é somente o mais jovem tricampeão do mundo, é a maior promessa de pulverizar os recordes e as conquistas do até então insuperável Schumacher, é um menino que ri, chora, grita, briga, mas não manda recados pelas redes sociais, não envia provocações desnecessárias aos adversários, tem o respeito dos fortes e dos fracos, vive uma vida mais que normal pra quem é um ser muito além. Ver o menino ser abraçado pelo ídolo de infância ao final da corrida, dando apoio e, muito provavelmente dizendo a ele o quanto ele será grande, é o maior reconhecimento que um esportista pode ter em sua vida.
Finalmente parece que a era “Dick Vigarista” parece estar acabando, ela que começou nos anos 80 e insistia em ser presença constante em nas pistas e nas conquistas dos campeões falastrões e sem muita papa na língua. Esse fim de uma era começou com o Button em 2009 e já engatou o Vettel nas suas três conquistas. Essa é a Fórmula 1 que todos gostamos de ver, é aquela que fez sucesso nos anos 70 e agora volta à tona. Para os mais jovens ou aqueles que realmente não conhecem, antigamente era assim, todos os pilotos eram amigos, mulheres e filhos conviviam e se relacionavam, e nas pistas resolviam seus problemas, sem essa coisa de guerra, às vezes um elogiando o outro, porque para ser grand e é preciso também reconhecer a grandeza do outro. Graças aos céus pilotos como o Alonso estão sendo colocados nos seus devidos lugares, não cabe mais no mundo de hoje você ser sempre implacável, o ser humano erra e o erro faz parte do aprendizado.
Apesar da alegria de ver a incrível conquista do Vettel, o alemão que chora, fico triste por outro lado com que acontece com os pilotos brasileiros. Era desnecessário acompanharmos o choro do Massa, não precisava ser assim, as lágrimas dele representam mais do que apenas estar no pódio no Brasil depois de tudo que passou, elas querem gritar para o mundo, dizer que ele não vai desistir, mas jamais vai ter uma chance de ganhar um campeonato do mundo do jeito que a banda toca, topou ser segundo e segundo será. Outro que deve estar chorando é o Bruno Senna. A sua passagem pela Williams acabou, ficou desempregado e agora vai tentar uma vaga na Force Índia ou se contentar em correr por uma anã qualquer, mesmo destino que o incansável Barrichello tenta, pois pra ele a Fórmula Indy parece não ser uma opção.
Vou encerrando a coluna dessa semana ressaltando as fotos do tricampeão. Note que ele sempre esta recebendo um premio ou fazendo pose ao lado do Schumi, isso se chama apoiar quem vai ser seu sucessor. Assim como ele, acredito que dezenas de crianças alemãs tenham fotos como essa e com esse mesmo personagem, isso faz com que o menino pense o que e com quem ele quer ser quando crescer. A Alemanha já é o país com mais títulos na Fórmula 1, no rastro desses dois virão mais e mais pilotos, eles farão mais e mais visitas aos pequenos porque, além do show ter que continuar, o automobilismo não pode morrer. A semente que foi plantada na Alemanha gerou frutos ótimos, a que foi plantada no Brasil esta secando. S& oacute; nos resta aplaudir os outros e tentar consolar os nossos.
A gente se encontra na semana que vem!
Beijos & queijos
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