O VW SP2 foi um esportivo brasileiro que deixou saudades. Isso porque entrou para a história da indústria automobilística brasileira.
A linha SP fez a Volkswagen iniciar o ciclo de desenvolvimento dos automóveis no país. Isso porque, até então, tínhamos uma pequena variedade de modelos, mas todos com projetos importados da matriz.
Primeiro de tudo, vamos lembrar de alguns acontecimentos dos anos 70. O Brasil vivia o regime da ditadura militar, iniciado em 1964. O presidente era Emílio Garrastazu Médici, ele ficou no cargo no período de 1969 a 1974.
Durante seu governo foi criado o Plano Nacional de Desenvolvimento, que recebeu o apelido de o “milagre brasileiro”, porque a economia brasileira alcançou crescimento considerável.
Entre as medidas implantadas, a importação estava fechada, no caso da indústria automobilística, a medida foi para incentivar compras só dos automóveis feitos pelas fabricantes instaladas por aqui.
Entre os modelos esportivos, o consumidor poderia optar pelo Volkswagen Karmann Ghia, um projeto importado, que na época poderia ser considerado global, pois foi vendido em várias partes do mundo.
As outras opções eram os automóveis feitos com carroceria de fibra por fabricantes independentes como a Puma e a Miura, porém, ambos utilizavam mecânica Volkswagen.
Sendo assim, neste clima de mercado fechado, Rudolf Leiding, então presidente da VW do Brasil, aproveitou o privilégio que a filial brasileira dispunha, porque afinal, foi a primeira fábrica da companhia instalada fora da Alemanha e autorizou o desenvolvimento de um esportivo.
Inicialmente ele foi chamado de ‘Projeto X’, e para realizar o trabalho, uma equipe de engenheiros e designers foi liderada pelo engenheiro Senor Schiemann. Na realidade o nome do engenheiro chefe do SP2, ou Projeto X é Wilhelm Schmiemann.
Segundo o Dr Paulo Cesar Sandler, um historiador que escreveu o livro com a história do VW Gol e do VW Karmann Ghia, todos chamavam o engenheiro de ‘senhor’ Schmiemann. “Provavelmente alguém entendeu que o nome era Senor, escreveu isso e ficou”.
Após este alerta do Dr. Paulo, ampliei a pesquisa e nada, todas as referências davam conta que o nome correto era Senor Schiemann.
Quem finalmente esclareceu minha dúvida foi o jornalista Bob Sharp, do Auto Entusiastas. Ele trabalhou na VW, e através de um contato que trabalhou com o engenheiro ele confirmou: o nome do engenheiro chefe que desenvolveu o SP2 é Wilhelm Schmiemann.
Mas ele não trabalhou sozinho. O protótipo foi feito por Antônio Carlos Martins, José Vicente Novita Martins, Jorge Yamashita Oba e Marcio Piancastelli.
Ele foi apresentado como modelo SP na Feira da Indústria Alemã em março de 1971, porém, finamente as vendas iniciaram no ano seguinte, quando o esportivo debutou no Salão do Automóvel de São Paulo.
O VW SP2 foi um esportivo brasileiro que deixou saudades. Isso porque o modelo mostrou para o mundo a capacidade criativa e o bom gosto da engenharia brasileira.
Depois de Projeto X, o carro recebeu a sigla SP como nome oficial. Em principio o significado de SP era Sport Prototype ou Special Project, porém prevaleceu a homenagem ao estado que a empresa se estabeleceu, ou seja, São Paulo.
Outra característica também inaugurada por causa do SP foi a fase da fabricante homenagear cidades brasileiras em seus modelos. Depois disso vieram o VW Brasília e VW Parati.
Para montar o primeiro esportivo do Brasil, os projetistas optaram por utilizar a plataforma da station wagon Variant (apelidada de perua por aqui).
Sendo assim, esta plataforma permitiu fazer um carro espaçoso, com entre-eixos de 2,4 m, mas como tem que ser um esportivo, espaçoso para dois ocupantes.
Visto de lateral, fica evidente que se trata de um legitimo cupê. Para tanto, têm duas portas, a caída do teto arredondada na traseira, as vigias com abertura, ou pequenas janelas, e as entradas de ar para refrigerar o motor na coluna C, o que forma um visual chamativo.
Nas portas, as maçanetas são cromadas, abaixo delas, faixas vermelhas refletivas que cortam toda a lateral, tem ainda um friso preto mais abaixo. As rodas são de ferro 14 polegadas elas são calçadas com pneus 185/80R14.
A frente do primeiro esportivo brasileiro pegou emprestado o conjunto de quatro faróis da Variant e TL, os quais passaram a ser utilizados a partir de 1971. Até então a Variant e o TL tinham faróis retangulares.
No centro da parte frontal um friso fino cromado de cada lado, por causa da semelhança, foi apelidado de bigodinho, e o símbolo VW.
As lâmpadas de seta estão embutidas nas extremidades do para-choque. Este é de uma lâmina na cor preta.
Já o capô é totalmente liso, ou seja, sem vincos para completar a harmonia do desenho dianteiro.
Acima de tudo, os designers se empenharam em fazer um carro bonito e harmonioso. Para confirmar, basta observar a traseira.
Ela é ovalada, tem o vidro grande, a tampa usa as bordas arredondadas. As lanternas são retangulares e estão embutidas na carroceria. Bem no centro uma moldura que abriga a placa de identificação.
Ainda mais estilosa é a pequena grade que esconde o cano do escapamento, pois fica amostra só a ponteira cromada. A luz de ré é externa, ou seja, não está dentro do conjunto das lanternas.
O VW SP2 foi um esportivo brasileiro que deixou saudades, o que fica mais evidente ao entrar no carro. Isso porque o primeiro detalhe que chama a atenção é o volante esportivo de três raios e o chamativo revestimento do painel na cor laranja.
Vale lembrar que a época era analógica, por isso, atrás do volante figura os mostradores de velocidade e conta-giros analógicos.
Já no centro do painel foram colocados os mostradores de combustível, temperatura do óleo, amperímetro e relógio.
Abaixo deles o rádio AM Blaupunkt, com receptor de ondas médias, curtas e tropicais. Logo abaixo os botões para acionar os faróis e limpadores de para-brisas. Nosso leitor, Carlos Eduardo Câmara Del Bianco, acrescenta que: “Os três botões do console são para acionar as luzes, reostato e ventilação, com três tampas cegas intercaladas”.
Ainda sobre os limpadores, Carlos Eduardo traz uma informação importante. “O limpador do SP2, do lado do motorista é pantográfico, uma novidades na época, e ao que consta, a VW do Brasil inovou colocando o funcionamento em uma alavanca no lado direito do volante, ou seja, lado oposto ao da chave de seta/farol baixo/alto, estendendo posteriormente para todos os veículos da linha. Somente em 1975 recebeu uma tecla de comando do pisca alerta, ficando assim com apenas 2 tampas cegas centrais”.
Inovador para a época trazia o precursor do que é chamado hoje de dual cockpit, ou seja, que separa o motorista do passageiro.
Isso porque o console foi integrado ao túnel, com a alavanca para a troca das marchas no centro.
Ainda neste console uma alavanca uma para abrir a a tampa traseira e acessar o motor, portanto, não havia o puxador externo.
Os bancos esportivos em couro eram oferecidos como opcionais, de série bancos que misturavam couro e curvim. O mesmo tipo de acabamento figura nas portas.
Logo que foi lançado, a Volkswagen disponibilizou no mercado brasileiro duas versões do esportivo. O SP1 com motor boxer refrigerado a ar 1.6 litro.
Ele entregava 65 cv de potência a 4.600 rpm e 12 kgfm de torque a 3.000 rpm. Porém, só 88 unidades do SP1 foram comercializadas, o que fez no ano seguinte ele ser descontinuado, ou seja, sair de linha.
Na época a diferença de preço entre um e outro era pequena, mas nos dias de hoje, este carro é muito raro, o que eleva seu custo.
Em ambos o motor foi colocado na posição longitudinal. Ele foi acoplado ao câmbio manual de quatro marchas com relações mais longas, que a de outros modelos da VW.
O SP2, passou a ser o sonho de consumo de quem gostava de carro esportivo. Ele vinha com motor 1.7 litro, também refrigerado a ar, com dois carburadores, sua potência é de 75 cv a 5.000 rpm e torque de 13,2 kgfm a 3.400 rpm.
A suspensão dianteira é independente com braço arrastado, na traseira independente com semi-eixo oscilante.
Outra diferença, além do motor, entre o SP1 e SP2 estava no sistema de frenagem. O modelo menos potente utiliza freios dianteiros a tambor, o mais potente discos sólidos. O sistema traseiro dos dois é a tambor.
O VW SP2 foi um esportivo brasileiro que deixou saudades. Tanto que as unidades remanescentes são oferecidas nos dias de hoje por valores que variam entre R$ 49.000 a R$ 120.000.
Também porque, até seu lançamento, a indústria automobilística brasileira, no caso de automóveis de passeio, tinha como representantes a Fiat, que chegou em 1976, Ford, General Motors e Volkswagen.
Todas elas literalmente montavam os veículos, não havia desenvolvimento de projetos locais.
Na Volkswagen este investimento em pesquisas e soluções locais foram iniciados com o Projeto X, depois batizado como SP.
Por causa dele, apesar de ser fabricado entre 1972 e 1976, e alcançar pouco mais de 10.000 unidades produzidas, confirmou para a matriz alemã que os profissionais brasileiros tinham o que mostrar.
Depois disso foi desenvolvido no Brasil o VW Brasília, o VW Gol que permaneceu durante 27 anos na liderança do mercado, e uma família de derivados como o VW Parati, VW Saveiro, e o sedã compacto VW Voyage.
Fruto do desenvolvimento local também vale destacar o VW Fox. Tão brasileiro que na fase de projeto foi chamado de Tupy.
Ao longo dos anos, a experiência adquirida em desenvolver veículos locais, fez com que a matriz alemã delegasse para a unidade brasileira a responsabilidade de desenvolver um SUV compacto.
Ele está pronto. É o VW Nivus, previsto para ser lançado ainda no primeiro semestre de 2020. Ele estréia no mercado nacional, depois em seguida será exportado para a Argentina e mais tarde ganhará o mercado europeu.
Portanto, não é exagero afirmar que o SP2 é o pai de todos os projetos brasileiros desenvolvidos pela Volkswagen que vieram depois dele.
Assista o vídeo do SP2 brasileiro que foi levado para a Alemanha. Ele está exposto no museu da Volkswagen
Motor: 1.7L Boxer
Disposição: Traseiro longitudinal
Número de válvulas: 8
Potência: 75 cv a 5.000 rpm
Torque : 13 kgfm a 3.400 rpm
Câmbio: Manual 4 marchas
Tração: Traseira
Dimensões
Comprimento: 4. 217 mm
Entre-eixos: 2 400 mm
Largura: 1.610 mm
Altura: 1 158 mm
Altura livre do solo 149 mm
Peso: 890 kg
Capacidades
Porta-malas: 140 litros
Tanque de combustível: 41 litros
Consumo
Ciclo urbano: 6,9 km/l
Ciclo rodoviário: 10,9 km/l
Velocidade máxima:161 km/h
1 Comment
Prezados (as) Senhores, bom dia.
Na informação do acionamento dos limpadores do SP2 (sendo o do motorista pantográfico, uma inovação na época), ao que consta a VW do Brasil inovou colocando seu funcionamento em uma alavanca no lado direito do volante (oposta à da seta/farol baixo/alto), estendendo posteriormente para todos os veículos da linha.
Os 3 botões do console são: luzes, reostato e ventilação, com 3 tampas cegas (intercaladas).
Somente em 1975 mais tecla passou a abrigar o pisca alerta, ficando assim com apenas 2 tampas cegas (centrais).
Acho que vale a observação.
Abraços.