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VW SP2: Um esportivo brasileiro que deixou saudades/ Foto: Saulo Mazzoni
O VW SP2 foi fabricado por quatro anos na década de 70. Ele entrou para história por iniciar o desenvolvimento de automóveis no Brasil e pode ser chamado de pai do Nivus
O VW SP2 foi um esportivo brasileiro que deixou saudades. Isso porque entrou para a história da indústria automobilística brasileira.
A linha SP fez a Volkswagen iniciar o ciclo de desenvolvimento dos automóveis no país. Isso porque, até então, tínhamos uma pequena variedade de modelos, mas todos com projetos importados da matriz.
Brasil anos 1970: Importações proibidas
Primeiro de tudo, vamos lembrar de alguns acontecimentos dos anos 70. O Brasil vivia o regime da ditadura militar, iniciado em 1964. O presidente era Emílio Garrastazu Médici, ele ficou no cargo no período de 1969 a 1974.
Durante seu governo foi criado o Plano Nacional de Desenvolvimento, que recebeu o apelido de o “milagre brasileiro”, porque a economia brasileira alcançou crescimento considerável.
Entre as medidas implantadas, a importação estava fechada, no caso da indústria automobilística, a medida foi para incentivar compras só dos automóveis feitos pelas fabricantes instaladas por aqui.

VW Karmann Ghia, projeto importado de esportivo feito no Brasil/ Foto: Saulo Mazzoni
Brasil anos 1970: poucas opções de esportivos
Entre os modelos esportivos, o consumidor poderia optar pelo Volkswagen Karmann Ghia, um projeto importado, que na época poderia ser considerado global, pois foi vendido em várias partes do mundo.

Esportivo Puma com mecânica VW/ Foto: Saulo Mazzoni

Miura um dos esportivos oferecidos nos anos 70 com carroceria de fibra/ Foto: Saulo Mazzoni
As outras opções eram os automóveis feitos com carroceria de fibra por fabricantes independentes como a Puma e a Miura, porém, ambos utilizavam mecânica Volkswagen.
Sendo assim, neste clima de mercado fechado, Rudolf Leiding, então presidente da VW do Brasil, aproveitou o privilégio que a filial brasileira dispunha, porque afinal, foi a primeira fábrica da companhia instalada fora da Alemanha e autorizou o desenvolvimento de um esportivo.

Marcio Piancastelli, um dos engenheiros que desenvolveu a linha SP/ Foto: Saulo Mazzoni
Inicialmente ele foi chamado de ‘Projeto X’, e para realizar o trabalho, uma equipe de engenheiros e designers foi liderada pelo engenheiro Senor Schiemann. Na realidade o nome do engenheiro chefe do SP2, ou Projeto X é Wilhelm Schmiemann.
Segundo o Dr Paulo Cesar Sandler, um historiador que escreveu o livro com a história do VW Gol e do VW Karmann Ghia, todos chamavam o engenheiro de ‘senhor’ Schmiemann. “Provavelmente alguém entendeu que o nome era Senor, escreveu isso e ficou”.
Após este alerta do Dr. Paulo, ampliei a pesquisa e nada, todas as referências davam conta que o nome correto era Senor Schiemann.
Quem finalmente esclareceu minha dúvida foi o jornalista Bob Sharp, do Auto Entusiastas. Ele trabalhou na VW, e através de um contato que trabalhou com o engenheiro ele confirmou: o nome do engenheiro chefe que desenvolveu o SP2 é Wilhelm Schmiemann.
Mas ele não trabalhou sozinho. O protótipo foi feito por Antônio Carlos Martins, José Vicente Novita Martins, Jorge Yamashita Oba e Marcio Piancastelli.
Ele foi apresentado como modelo SP na Feira da Indústria Alemã em março de 1971, porém, finamente as vendas iniciaram no ano seguinte, quando o esportivo debutou no Salão do Automóvel de São Paulo.
VW SP2: Desenho inovador
O VW SP2 foi um esportivo brasileiro que deixou saudades. Isso porque o modelo mostrou para o mundo a capacidade criativa e o bom gosto da engenharia brasileira.
Depois de Projeto X, o carro recebeu a sigla SP como nome oficial. Em principio o significado de SP era Sport Prototype ou Special Project, porém prevaleceu a homenagem ao estado que a empresa se estabeleceu, ou seja, São Paulo.
Outra característica também inaugurada por causa do SP foi a fase da fabricante homenagear cidades brasileiras em seus modelos. Depois disso vieram o VW Brasília e VW Parati.

VW Variant, emprestou a plataforma para o SP2 e os faróis/ Foto: Saulo Mazzoni
Para montar o primeiro esportivo do Brasil, os projetistas optaram por utilizar a plataforma da station wagon Variant (apelidada de perua por aqui).
Sendo assim, esta plataforma permitiu fazer um carro espaçoso, com entre-eixos de 2,4 m, mas como tem que ser um esportivo, espaçoso para dois ocupantes.
VW SP2: Um legitimo cupê
Visto de lateral, fica evidente que se trata de um legitimo cupê. Para tanto, têm duas portas, a caída do teto arredondada na traseira, as vigias com abertura, ou pequenas janelas, e as entradas de ar para refrigerar o motor na coluna C, o que forma um visual chamativo.

VW SP2: Um esportivo brasileiro que deixou saudades/ Foto: Saulo Mazzoni
Nas portas, as maçanetas são cromadas, abaixo delas, faixas vermelhas refletivas que cortam toda a lateral, tem ainda um friso preto mais abaixo. As rodas são de ferro 14 polegadas elas são calçadas com pneus 185/80R14.
A frente do primeiro esportivo brasileiro pegou emprestado o conjunto de quatro faróis da Variant e TL, os quais passaram a ser utilizados a partir de 1971. Até então a Variant e o TL tinham faróis retangulares.

Foto: Saulo Mazzoni
No centro da parte frontal um friso fino cromado de cada lado, por causa da semelhança, foi apelidado de bigodinho, e o símbolo VW.
As lâmpadas de seta estão embutidas nas extremidades do para-choque. Este é de uma lâmina na cor preta.
Já o capô é totalmente liso, ou seja, sem vincos para completar a harmonia do desenho dianteiro.

Foto: Saulo Mazzoni
Acima de tudo, os designers se empenharam em fazer um carro bonito e harmonioso. Para confirmar, basta observar a traseira.
Ela é ovalada, tem o vidro grande, a tampa usa as bordas arredondadas. As lanternas são retangulares e estão embutidas na carroceria. Bem no centro uma moldura que abriga a placa de identificação.
Ainda mais estilosa é a pequena grade que esconde o cano do escapamento, pois fica amostra só a ponteira cromada. A luz de ré é externa, ou seja, não está dentro do conjunto das lanternas.
VW SP2: Interior esportivo e requintado
O VW SP2 foi um esportivo brasileiro que deixou saudades, o que fica mais evidente ao entrar no carro. Isso porque o primeiro detalhe que chama a atenção é o volante esportivo de três raios e o chamativo revestimento do painel na cor laranja.
Vale lembrar que a época era analógica, por isso, atrás do volante figura os mostradores de velocidade e conta-giros analógicos.

Foto: Saulo Mazzoni
Já no centro do painel foram colocados os mostradores de combustível, temperatura do óleo, amperímetro e relógio.
Abaixo deles o rádio AM Blaupunkt, com receptor de ondas médias, curtas e tropicais. Logo abaixo os botões para acionar os faróis e limpadores de para-brisas. Nosso leitor, Carlos Eduardo Câmara Del Bianco, acrescenta que: “Os três botões do console são para acionar as luzes, reostato e ventilação, com três tampas cegas intercaladas”.
Ainda sobre os limpadores, Carlos Eduardo traz uma informação importante. “O limpador do SP2, do lado do motorista é pantográfico, uma novidades na época, e ao que consta, a VW do Brasil inovou colocando o funcionamento em uma alavanca no lado direito do volante, ou seja, lado oposto ao da chave de seta/farol baixo/alto, estendendo posteriormente para todos os veículos da linha. Somente em 1975 recebeu uma tecla de comando do pisca alerta, ficando assim com apenas 2 tampas cegas centrais”.

Bancos esportivos de série/ Foto: Saulo Mazzoni
Inovador para a época trazia o precursor do que é chamado hoje de dual cockpit, ou seja, que separa o motorista do passageiro.
Isso porque o console foi integrado ao túnel, com a alavanca para a troca das marchas no centro.

Foto: Saulo Mazzoni
Ainda neste console uma alavanca uma para abrir a a tampa traseira e acessar o motor, portanto, não havia o puxador externo.
Os bancos esportivos em couro eram oferecidos como opcionais, de série bancos que misturavam couro e curvim. O mesmo tipo de acabamento figura nas portas.

SP1 com motor 1.6 Le SP2 com motor 1.7L/ Foto: Saulo Mazzoni
VW SP2: Motor, câmbio e suspensões
Logo que foi lançado, a Volkswagen disponibilizou no mercado brasileiro duas versões do esportivo. O SP1 com motor boxer refrigerado a ar 1.6 litro.
Ele entregava 65 cv de potência a 4.600 rpm e 12 kgfm de torque a 3.000 rpm. Porém, só 88 unidades do SP1 foram comercializadas, o que fez no ano seguinte ele ser descontinuado, ou seja, sair de linha.
Na época a diferença de preço entre um e outro era pequena, mas nos dias de hoje, este carro é muito raro, o que eleva seu custo.

Motor do SP1 com 1.6 litro que entregava 65 cv de potência/ Foto: Saulo Mazzoni
VW SP1 e SP2 com motor longitudinal
Em ambos o motor foi colocado na posição longitudinal. Ele foi acoplado ao câmbio manual de quatro marchas com relações mais longas, que a de outros modelos da VW.
O SP2, passou a ser o sonho de consumo de quem gostava de carro esportivo. Ele vinha com motor 1.7 litro, também refrigerado a ar, com dois carburadores, sua potência é de 75 cv a 5.000 rpm e torque de 13,2 kgfm a 3.400 rpm.

Motor do SP2 1.7 litro, com 75 cv/ Foto: Saulo Mazzoni
A suspensão dianteira é independente com braço arrastado, na traseira independente com semi-eixo oscilante.
Outra diferença, além do motor, entre o SP1 e SP2 estava no sistema de frenagem. O modelo menos potente utiliza freios dianteiros a tambor, o mais potente discos sólidos. O sistema traseiro dos dois é a tambor.
VW SP2: O modelo que lançou a engenharia brasileira mundialmente
O VW SP2 foi um esportivo brasileiro que deixou saudades. Tanto que as unidades remanescentes são oferecidas nos dias de hoje por valores que variam entre R$ 49.000 a R$ 120.000.
Também porque, até seu lançamento, a indústria automobilística brasileira, no caso de automóveis de passeio, tinha como representantes a Fiat, que chegou em 1976, Ford, General Motors e Volkswagen.
Todas elas literalmente montavam os veículos, não havia desenvolvimento de projetos locais.

VW SP2: Um esportivo brasileiro que deixou saudades/ Foto: Saulo Mazzoni
Na Volkswagen este investimento em pesquisas e soluções locais foram iniciados com o Projeto X, depois batizado como SP.
Por causa dele, apesar de ser fabricado entre 1972 e 1976, e alcançar pouco mais de 10.000 unidades produzidas, confirmou para a matriz alemã que os profissionais brasileiros tinham o que mostrar.
Depois disso foi desenvolvido no Brasil o VW Brasília, o VW Gol que permaneceu durante 27 anos na liderança do mercado, e uma família de derivados como o VW Parati, VW Saveiro, e o sedã compacto VW Voyage.
Fruto do desenvolvimento local também vale destacar o VW Fox. Tão brasileiro que na fase de projeto foi chamado de Tupy.
Ao longo dos anos, a experiência adquirida em desenvolver veículos locais, fez com que a matriz alemã delegasse para a unidade brasileira a responsabilidade de desenvolver um SUV compacto.
Ele está pronto. É o VW Nivus, previsto para ser lançado ainda no primeiro semestre de 2020. Ele estréia no mercado nacional, depois em seguida será exportado para a Argentina e mais tarde ganhará o mercado europeu.
Portanto, não é exagero afirmar que o SP2 é o pai de todos os projetos brasileiros desenvolvidos pela Volkswagen que vieram depois dele.
Por: Edison Ragassi/Fotos: Saulo Mazzoni
Assista o vídeo do SP2 brasileiro que foi levado para a Alemanha. Ele está exposto no museu da Volkswagen
Ficha técnica VW SP2
Motor: 1.7L Boxer
Disposição: Traseiro longitudinal
Número de válvulas: 8
Potência: 75 cv a 5.000 rpm
Torque : 13 kgfm a 3.400 rpm
Câmbio: Manual 4 marchas
Tração: Traseira
Dimensões
Comprimento: 4. 217 mm
Entre-eixos: 2 400 mm
Largura: 1.610 mm
Altura: 1 158 mm
Altura livre do solo 149 mm
Peso: 890 kg
Capacidades
Porta-malas: 140 litros
Tanque de combustível: 41 litros
Consumo
Ciclo urbano: 6,9 km/l
Ciclo rodoviário: 10,9 km/l
Velocidade máxima:161 km/h
1 Comments
Prezados (as) Senhores, bom dia.
Na informação do acionamento dos limpadores do SP2 (sendo o do motorista pantográfico, uma inovação na época), ao que consta a VW do Brasil inovou colocando seu funcionamento em uma alavanca no lado direito do volante (oposta à da seta/farol baixo/alto), estendendo posteriormente para todos os veículos da linha.
Os 3 botões do console são: luzes, reostato e ventilação, com 3 tampas cegas (intercaladas).
Somente em 1975 mais tecla passou a abrigar o pisca alerta, ficando assim com apenas 2 tampas cegas (centrais).
Acho que vale a observação.
Abraços.